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Um espaço de análise econômica, antropológica e social

domingo, 14 de março de 2010

A Crise Financeira, um olhar crítico marxista.

O prof. Juan Torres Lopéz, define a crise em 6 ou 7 momentos principais, a saber crise hipotecária, crise financeira crise na economia real, crise global crise mais forte que as 3 primeiras e beneficiários da crise. É muito coerente e sólida a tese apresentada pelo professor, mas que de certa forma pode ser explicada baseando-se no que Marx já dizia lá no séc. XIX.

Estamos perante uma crise proveniente da especulação e da necessidade impetuosa dos grandes capitalistas – aqui se incluem os grandes banqueiros, sem incluir necessariamente os capitalistas industriais que de acordo o texto pouco tinham haver com a crise - investidores realização da mais valia que é neste caso representada pela forma mais fetichista que é o juro ou capital a juros: D – D’ (Marx, 1982 p.189). O capital a juros cria assim um novo capitalista, um capitalista mais social que enriquece mediante transferência deste a um outro capitalista que por sua vez pode fazer o mesmo processo concretizando, assim o crescimento e valorização do capital. Isto é produto do próprio modo de produção capitalista, ou seja, o capitalista industrial em detrimento de satisfazer ou atender a sua demanda de ampliar cada vez mais a sua produção e concentrar o seu capital recorre, sempre que necessário ao crédito como meio para efetivar o processo. Este crédito por sua vez vem de um prestamista que pode ser um banqueiro ou um prestamista isolado, que por intermédio de acordos – letras, bilhetes bancários, títulos, etc – cede o seu dinheiro já em forma de capital com a idéia de voltar valorizado, isto é, aumentado consoante a taxa de juro vigente.

Com o crescimento do modo de produção capitalista aumenta a necessidade de recorrer ao crédito como fonte ou base para aceleração do processo. Ao aumentar esta demanda os cedentes de crédito – neste caso já os banqueiros, dada a amplitude e o direito cedido a estes de efetuar tais operações – vêm seu negócio ser aumentado e, portanto, sentem-se mais tentados em multiplicar e facilitar os adiantamentos ou descontos de letras ou ainda emissão de títulos dependentemente das suas reservas e depósitos e outro fator que assume ai extrema importância; “a especulação”.

No texto “Crédito e Capital Fictício” temos a seguinte afirmação:

“tudo o que facilita os negócios, facilita a especulação; em muitos casos, ambos se entrelaçam tanto que é difícil dizer onde acaba o negócio e onde começa a especulação” (Marx, 1991 apud Gilbart, 1834, pp. 137s).

Vê-se assim surgir um novo negócio para os possuidores destas condições de criar capital fictício, e a ambição, ou de um modo mais formal a corrida pelo lucro que passa a ser já um negócio independente da demanda de crédito por parte de capitalistas. Os bancos ampliam os seus meios especulativos, e motivados pela baixa taxa de juros – em outras palavras a capacidade de poderem adquirir de A, a preços baixos e cederem a B com juros mais altos – se lançam com audácia no mercado, mesmo sabendo muitas vezes da insegurança e riscos do sistema, emitindo um número elevado de títulos que depois podem vir comprometer os próprios emissores devido a vários fatores.

Um dos grandes fatores é a subida da taxa de juros. O banco para corrigir seus erros aumenta a taxa de juro (Marx, 1991, p. 545). Aumentando a taxa de juros alguns sofrem e outros perdem na economia. É um efeito duplo em que os proprietários do capital saem mais enriquecidos, mas em contrapartida encarecem o endividamento de famílias ou empresas que é o que aconteceu. As pessoas que adquiriram as hipotecas não puderam efetuar os seus pagamentos, e como ao adquirir estas hipotecas elas criam títulos financeiros ativos para os bancos. Estes, imediatamente os lançam no mercado conforme acima explicado, desdobrando-se a crise financeira uma vez que estes títulos foram adquiridos por bancos e investidores de outros países, que ao serem infetados pela crise financeira perdem dinheiro ao mesmo tempo em que retiram do mercado os seus meios de pagamento (títulos, letras) produzindo assim uma crise de liquidez.

E foi assim que aconteceu, ou seja, os bancos estadunidenses especularam por demasiado, e sem medir os riscos criaram uma bomba que se voltou contra si, afetando não só a origem como também os destinos finais que é que chamam na economia de “efeito dominó”, já que a economia ou o fluxo financeiro está ligado com os demais países e bem globalizado, que começando no sistema hipotecário contaminou o fluxo mundial, que como diz o prof. Juan “talvez seja algo mais que uma crise hipotecária, financeira e global”, mas que mesmo sendo uma crise não deixa de beneficiar alguns e logicamente prejudicar outros.

Em modo conclusivo, o presente artigo do prof. Juan Torres Lopéz, reflete as teorias da especulação do capital produtor de juros – capital criando mais-valia. Quer isto dizer que a fórmula D – D’, que esconde o processo pelo qual – o capital – passou, não é perceptível ao consumidor mediano, mas instituída pelos grandes capitalistas. Os bancos, como principais portadores desse capital, encontram-se neste momento em situação de desvantagem visto que as insolubilidades dos seus clientes fazem-no inverter em direção de uma política de emissão de títulos públicos, letras de cambio, e outros dinheiros de papel. Nesta situação, como o consumidor não consegue pagar o crédito, ou o juro do capital emprestado, o banco fica sem recursos para honrar os seus compromissos reais da economia para o qual ele é destinado (crédito para produção efetiva de bens e serviços).

Tal como aconteceu no passado, as crises financeiras existem e continuarão a existir enquanto permanecer a “economia de cassino” que baseia-se na especulação como meio para a realização da mais valia que é o desejo imperdoável dos novos grandes capitalistas.

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